domingo, 9 de dezembro de 2018

Lampejo

Aquele olhar perdido não lhe era estranho. Já o havia visto em algum lugar. Ela era linda, era linda a dona do olhar perdido e do sorriso largo. Ele sempre a observava enquanto caminhava, e quando os olhares se cruzavam ela sorria com um uma sinceridade apaixonante.

Como é linda a menina do olhar perdido.E ele? Apenas um vivente a procura da calma que a muito havia perdido. Ela esta sempre tão sorridente, com seus medos, é claro, afinal quem não os tem? Mas aquele sorriso, como é cativante.

Num breve momento o coração do moço se abriu e achou que finalmente encontrara a paz tão desejada. Mas não, foi apenas um lampejo de algo que ele não sabe se ainda virá. E a moça? Ela continua linda e faceira com aquele olhar tão contagiante.

Daqui a pouco a maré abaixa e ele sossega de novo. Porém somente até a próxima onda! 

Eterno Aprendiz

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Coragem


Acordou suado do mesmo pesadelo de todas as noites. Eram três da manhã, lá fora o silencio entorpecente da noite o fazia mal. Não havia barulho, não havia movimento. Era somente ele e seus pensamentos loucos que sempre o cercavam. Precisava sair e conversar, quem sabe, talvez, reencontrar seu passado, onde de fato fora feliz.  Mas como?

Desde que saíra aquela noite carregando na mala seus livros e as poucas roupas que deixara em casa, não havia mais contato. Não  via mais a menina dos olhos cor de jabuticaba. Mas talvez, se fosse novamente aos mesmos lugares. Aquele bar da esquina da rua doze com a avenida principal, ou talvez o teatro da rua do centro. Queria revê-la. Queria dizer alguma coisa, se desculpar, quem sabe!

Levantou, vestiu uma calça jeans, abriu uma garrafa de vinho e saiu em caminha pelas ruas vazias e escuras. Caminhou sem destino, fugindo de si mesmo e de suas fraquezas. Caminhou por horas até encontrar uma flor, caída, colorindo aquele cenário sombrio e sem vida. Era uma flor amarela, estava morta! Olhou para cima procurando entender de onde havia surgido algo tão discrepante.

Quando seus olhos focaram no 17º andar do prédio, conseguiu ver uma moça de pé na janela. Não vestia nada, apenas segurava um buque de rosas amarelas. 

Antes que pudesse falar alguma coisa a jovem se jogou e bateu com tanta força no chão que as flores que caíram antes voaram para longe. Estava morta, a moça, as flores e ele. Sem reação sentou ao lado do corpo da jovem, ascendeu um cigarro e contemplou as estrelas. Depois de um alguns minutos ligou para a polícia e continuou sua caminhada. A cena não o perturbara. O único pensando permeava em sua mente era de que ele não teria tanta coragem.

Ou teria?



quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Passagem

Era tarde de novembro, ele estava sentado sobre a janela de seu quarto observado a passagem de pessoas apressadas. Como podem continuar suas rotinas? Será que elas não percebem o que está por vir? Na sua cama dormia completamente nua, a conquista da última noite. Era tarde, era novembro. Ascendeu mais um cigarro enquanto observava a passagem de pessoas apressadas. Eles seguem suas rotinas, escolheram seus destinos e simplesmente seguiram.

Poderia ele fazer alguma coisa? Teria ele o dever de ajudar aquelas pessoas apressadas e que faziam a passagem? Talvez. Essas ideias martelavam em sua cabeça. Enquanto bebia, transava e se divertia as frases passavam diante dele como as luzes do letreiro do velho puteiro da rua cinco. “Esse não é o seu caminho, mas se quiser entre”.

Ele entrou, já era tarde, era novembro? As pessoas ali eram ainda mais apressadas. E seguiam ainda mais suas rotinas. Bebiam umas das outras, comiam umas as outras, eram carne, era visceral, era desejo, era tarde. Entrou, sentou no bar, bebeu, e quando ia a{s}cender mais um cigarro foi sugado para o meio da pista de dança. Eles o queriam.

Ali as luzes eram intensas, ele dançava e girava em meio a sons, seios, bebidas e luzes, a como as luzes eram intensas. De repente um clarão, um estouro e preto, tudo ficou preto. Sentado na janela de seu quarto ele se viu apressado, seguindo sua rotina. Ele fez a passagem.

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

{...}

Hoje eu voltei a escutar música. Antes elas apenas me faziam passar o tempo, hoje, voltaram a fazer sentido.

Chorei.

As decisões são tomadas, os caminhos escolhidos e as consequências chegam. Não reclamo de nada, não me arrependo de nada, porém, o coração ta apertado.

Os caminhos são tortuosos, mas aquelas tardes eram felizes e vão ficar aqui dentro, para sempre eu me lembrar do melhor de mim! Valeu a pena!



terça-feira, 8 de maio de 2018

Autocritica

Mente subversiva
Psicótica
Altamente suicida
Ainda assim andava com um sorriso no rosto
Com a esperança de que quando a morte chegar
Sentir-se-á pleno e feliz
Simplesmente feliz

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Voltar a Essência

Demorei um ano para começar a escrever estas linhas. Começo agora, pois só agora consigo entender o que se passou. Vocês conseguem entender o que é morrer? Ou melhor, conseguem entender o que é nascer, ou renascer?  Muitos entendem, pois passaram por um grave acidente ou uma doença devastadora e sobreviveram. Ainda sim é diferente.

Há um ano escrevi sobre minha entrada no candomblé e sobre o passo importante que daria naquele momento. Lá eu dizia:

"Ser do candomblé é se deixar disponível para a caridade a todo o momento. Ser do candomblé é trabalho, muito trabalho! Mas é também gratidão. A sensação de ajudar o próximo e receber de volta um sorriso, um abraço e o principal, saber que de alguma maneira você contribuiu para a evolução e o bem estar do outro é algo indescritível."

Pois bem, em janeiro de 2017, enfim, nasci para o orixá! O que isso significa? Abdicar de muitas coisas para viver a caridade e evoluir junto com toda sua espiritualidade. É ter a certeza de que nunca estará só e também nunca poderá deixar alguém que precise de você sozinho! É ser você, na mais pura simplicidade e complexidade que isso exige. Logo mais vou escrever sobre isso, agora é sobre mim e as mudanças que este nascimento causou.

É engraçado! A primeira mudança foi a descoberta de que o candomblé sim, é isso, de estar disponível para caridade, porém, vai além. É se descobrir e deixar os personagens de lado para voltar a sua essência, a sua ancestralidade.   "Ser essência muito mais", trago essa frase tatuada nas costas há algum tempo e agora ela faz tanto sentido que só consigo pensar em premonição!

Bom, neste um ano passei por algumas experiências, boas e ruins, claro, mas vivências que me fizeram começar a entender o que é ser de um orixá. No outro texto deste blog, eu dizia que estava indo nascer para uma nova vida e agora volto para dizer que realmente a vida é nova! Melhor? não consigo fazer ainda este balanço, porém posso dizer que é uma vida diferente, mais cautelosa, mais impaciente com o outro, com um foco ainda embaçado pelo suor que escorre pelo rosto e pinga na lente.

Voltar à essência não é algo tão simples! É como aquela criança que está aprendendo a atravessar a rua, contudo, agora, a travessia é feita sozinha e a descoberta do melhor caminho se dá aos poucos. De vagar e sempre, sempre devagar! Assim vamos levando, refletindo, entendendo e buscando sempre melhorar!


Come together?