quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Coragem


Acordou suado do mesmo pesadelo de todas as noites. Eram três da manhã, lá fora o silencio entorpecente da noite o fazia mal. Não havia barulho, não havia movimento. Era somente ele e seus pensamentos loucos que sempre o cercavam. Precisava sair e conversar, quem sabe, talvez, reencontrar seu passado, onde de fato fora feliz.  Mas como?

Desde que saíra aquela noite carregando na mala seus livros e as poucas roupas que deixara em casa, não havia mais contato. Não  via mais a menina dos olhos cor de jabuticaba. Mas talvez, se fosse novamente aos mesmos lugares. Aquele bar da esquina da rua doze com a avenida principal, ou talvez o teatro da rua do centro. Queria revê-la. Queria dizer alguma coisa, se desculpar, quem sabe!

Levantou, vestiu uma calça jeans, abriu uma garrafa de vinho e saiu em caminha pelas ruas vazias e escuras. Caminhou sem destino, fugindo de si mesmo e de suas fraquezas. Caminhou por horas até encontrar uma flor, caída, colorindo aquele cenário sombrio e sem vida. Era uma flor amarela, estava morta! Olhou para cima procurando entender de onde havia surgido algo tão discrepante.

Quando seus olhos focaram no 17º andar do prédio, conseguiu ver uma moça de pé na janela. Não vestia nada, apenas segurava um buque de rosas amarelas. 

Antes que pudesse falar alguma coisa a jovem se jogou e bateu com tanta força no chão que as flores que caíram antes voaram para longe. Estava morta, a moça, as flores e ele. Sem reação sentou ao lado do corpo da jovem, ascendeu um cigarro e contemplou as estrelas. Depois de um alguns minutos ligou para a polícia e continuou sua caminhada. A cena não o perturbara. O único pensando permeava em sua mente era de que ele não teria tanta coragem.

Ou teria?



Nenhum comentário:

Postar um comentário

"A Paz, A ciência, A Essência"